A falta de fiscalização e de sinalização coordenada no trânsito de Santo André gera transtornos para motoristas e pedestres todos os dias. Na Avenida Dom Pedro II, principal via em área nobre da cidade, engarrafamentos são frequentes nas mais variadas horas do dia, não necessariamente nos horários de pico. Caos agravado pelo fechamento em época imprópria do Viaduto Adib Chammas, no Centro, em obras desde janeiro.
Pela manhã, os condutores têm de estar atentos aos semáforos, que operam sem sincronismo. Durante a tarde, o trânsito também não dá trégua e apresenta intenso movimento. Ontem, às 18h, próximo ao cruzamento com a Rua Catequese, o caos instalou-se, transformando o cruzamento em um emaranhado de veículos barulhentos.
A exaustão por conta do tempo perdido não é exclusividade de motoristas. “Moro no Parque São Rafael e levava 15 minutos de trólebus até a estação. Agora estou demorando uma hora e dez minutos”, reclamou o porteiro José Paião de Sales, 70 anos.
O transtorno na avenida também é atribuído ao atraso nas obras de reparo no Viaduto Adib Chammas, no Centro, que faz ligação com a Avenida dos Estados. Motoristas são obrigados a desviar o trajeto e buscar rotas alternativas, como Perimetral, Rua das Figueiras e Avenida José Amazonas. Os amarelinhos não estão na Dom Pedro II. Às 9h foi possível avistar dois, mas estavam com talonário e caneta na mão. Função: multar.
SECRETÁRIO
O governo andreense, mais uma vez, limitou-se a responder que o viaduto problemático ficará pronto provavelmente no fim deste mês. O secretário de Obras e Serviços Públicos, Alberto Casalinho, fugiu da imprensa, escorando-se na assessoria da Prefeitura. Somente por meio de nota, a administração reconheceu que as obras no viaduto prejudicam o tráfego, argumentando, no entanto, que muitos motoristas que trafegam pela Avenida Dom Pedro II cometem infrações, como parar sobre a faixa de pedestres ou travar os cruzamentos, complicando a fluidez do trânsito.
BOM SÓ DE MANHÃ
Assim,enquanto o elevado não é liberado, ruas e avenidas vão ficar congestionadas. A Dom Pedro II pode ser uma opção de acesso para São Caetano, São Bernardo e Mauá das 5h30 até as 8h30. “Se sair cedo de casa, dá para andar numa boa. Mas, quando fica congestionado, o jeito é pegar alguma paralela”, comentou ontem o assistente administrativo Rafael Demarchi, 25 anos.
Bastou os ponteiros do relógio passarem das 8h30 para que as filas começassem a se formar na altura do Parque Celso Daniel. Rapidamente, travaram os dois sentidos. O aposentado Virgilio Armando Silva, 40, admitiu que pela manhã o estresse é menor do que à tarde. “De manhãzinha a gente até consegue fugir por outras ruas. Mas depois fica impossível.”
TRAVESSIAS
E quando o tráfego fica mais lento, quem mais sofre são os pedestres. Nas faixas de travessia que não contam com semáforos, têm de se espremer entre um veículo e outro. “Se a gente, que não tem problemas para caminhar, já encontra dificuldade, imagina os deficientes”, comentou o desempregado Jordans Febrio, 56.
Prefeitura tenta aliviar lentidão no Centro e improvisa desvio
Na tentativa de evitar que o caos se instale de vez na região central da cidade, a Prefeitura de Santo André fechou um trecho da pista bairro-Centro do Viaduto Adib Chammas para que o fluxo de carros continue no sentido contrário, em direção ao outro lado da Avenida dos Estados. O serviço de obras no sentido Centro-bairro começou na tarde de terça-feira.
Mesmo assim, a região do bairro Jardim continua sendo castigada, pois as ruas ficam entupidas de carros até as proximidades da Avenida Dom Pedro II. Na nota de esclarecimento da Prefeitura, enviada ontem, a administração municipal declarou que “os agentes de trânsito da cidade são instruídos para evitar autuações em momentos de operação, principalmente em situações involuntárias”. No entanto, motoristas alegam que os agentes não auxiliam na organização do trânsito, insistindo em achar infrações em meio ao transtorno.
Ainda de acordo com a nota oficial, a lentidão se deve ao uso de rotas alternativas por conta do fechamento do viaduto. Com isso, os veículos que seguem pela Avenida dos Estados estão utilizando os viadutos Castelo Branco e Juvenal Fontanella, entrando na Avenida Dom Pedro II, sentido Centro.
Plano Diretor promete revisão do viário de Santo André
A revisão do Plano Diretor de Santo André traz uma esperança para os moradores e motoristas que sofrem diariamente com o trânsito na cidade.
O documento que será debatido durante audiência pública no dia 31 na Câmara promete enviar à Casa projeto de lei de revisão do Pasv (Plano de Ampliação do Sistema Viário).
Contudo, a promessa não está a contento dos oposicionistas do prefeito Aidan Ravin (PTB). “A população está estressada por conta do trânsito, e o Plano Diretor passa ao largo dessa questão”, disse o vereador Antonio Leite (PT).
A Prefeitura informou que após a aprovação da lei pelo Legislativo, o prazo para a revisão do Pasv é de um ano.
O Executivo disse que está trabalhando na preparação do Plano de Mobilidade, além de obras para o sistema viário, como a eliminação do cruzamento em nível da Avenida Pereira Barreto com Rua Ibiapava, conclusão dos projetos dos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos) Tamanduateí-ABC e ABC-Guarulhos. Mas não disse quando as obras serão iniciadas.
Especialista em trânsito e professor de Engenharia Civil da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Creso de Franco Peixoto avalia que mais que um Plano de Mobilidade, o grande desafio da administração é integrar o município com a Capital. “É preciso haver plano conjugado e não só ações independentes no município.”
Fonte: Diário do Grande ABC