Abrigo de fortes histórias humanas, o consultório médico é uma vitrine de sentimentos e fragilidades. “Você cria uma identidade com o médico. Ele acaba sendo íntimo nosso, afinal a gente fala com ele das nossas vísceras nos dois sentidos”, conta Rosane Gofman, que interpreta uma médica à beira do ataque de nervos em ‘Doutor! – Como Enlouquecer um Médico em um Dia’. A peça terá sessão no sábado, no Teatro Municipal de Santo André.
Fruto de encomenda feita por pessoas da área da saúde, o texto de Yuri Gofman, filho da atriz que também divide a cena com ela, caiu no gosto dos pacientes. E ganhou temporada aberta e bem-sucedida na cidade do Rio de Janeiro.
Cansada da dupla jornada, Consuelo está a um dia de se aposentar como médica da emergência. Ansiosa pelo descanso no fim do dia, ela vê diversos tsunamis passarem por seu consultório. “A ocasião em que ela vai se aposentar é coincidentemente o dia em que passam por sua sala as pessoas mais loucas e hilárias. Ela recebe visita de uma pessoa que ia entrar no mesmo número de consultório em outro prédio, um hipocondríaco, o pedreiro que vai falar das obras em sua casa, sua sogra, que é uma verdadeira demônia”, conta a atriz.
VIDAS EM COMUM
Além da rotina estafante, Consuelo vive o pandemômio na vida pessoal. A reforma da sua casa dura meses e não tem prazo para acabar; seu marido tem déficit de atenção; sua cachorra é diabética. Pelo menos ela se considera consolada com o filho, que foge da tradição familiar de estudar medicina e se dedica à engenharia.
“O texto é uma comédia do começo ao fim, mas passa muito pelas relações entre as pessoas, trata o médico como ser humano como outro qualquer, com as suas particularidades.”
Para ela, a identificação dos dois lados da história passa por um crivo muito mais amplo do que as rotineiras questões que são trocadas durante uma consulta médica. “Além do fato de falar do lado da vida do médico que tem relação com a história das pessoas em geral: do cansaço, das provações que cada um passa para poder crescer no trabalho.”
Sem se ater ao que é certo ou errado nas relações dentro do consultório médico – pacientes que sabem tudo, que pensam que estão na sessão de terapia ou médicos que não conseguem lidar com os pacientes de maneira mais cordial -, a peça transcorre para além do mero encontro entre doutor e enfermo. “Está amarrada à questão sobre a opção de seguir uma carreira, de fazer aquilo que te faz feliz”, considera Rosane, que completa com o seu receituário: “Rir é um bom remédio.”
Doutor! – Como Enlouquecer um Médico em um Dia – Teatro. Sábado, às 21h. No Teatro Municipal de Santo André – Praça 4º Centenário. Tel.: 4433-0789. Ingr.: R$ 40 (até amanhã) e R$ 50.
Fonte: Diário do Grande ABC