Voluntárias em Santo André que escutam com o coração

Ouvir sem opinar, julgar ou dar conselhos, independentemente de crenças, modos de pensar e convicções. É dessa forma que três voluntárias da Igreja São José Operário, no Jardim Bela Vista, em Santo André, realizam o Serviço de Escuta, que, de forma gratuita, oferece espaço para quem precisa desabafar, sem precisar ser católico.

Qualquer pessoa pode utilizar o serviço, que tem garantia de sigilo e começou a funcionar na região em março. Na Capital, 17 paróquias oferecem voluntários dispostos a escutar com os ouvidos e o coração. Na São José Operário, as voluntárias estão disponíveis de terça-feira, das 15h30 às 17h, quinta-feira, das 14h30 às 16h, e aos sábados, das 14h às 15h30.

Quem iniciou o trabalho na igreja andreense foi a professora universitária Patrícia Dantone, 43 anos. Ela conheceu o Serviço de Escuta na Capital e, como havia atuado antes no CVV (Centro de Valorização da Vida), resolveu fazer o curso para voluntários oferecido na Igreja São Luiz Gonzaga, na Avenida Paulista. Com o aval do padre José Pedro Teixeira de Jesus e a ajuda bem- vinda de mais duas voluntárias, começou a atender os interessados na paróquia do Jardim Bela Vista. “Ainda recebemos poucas pessoas, mas o trabalho tem um período de amadurecimento de cerca de dois anos. Os usuários precisam se acostumar com a existência do serviço e confiar nele.”

Uma das voluntárias que se interessou em auxiliar aqueles que precisam de ouvidos amigos foi a professora aposentada Aparecida Benedita Aissa Zanelato, 65. O que motivou Cida, como é conhecida na paróquia, foi a falta de uma pessoa que a ouvisse quando passou por momentos difíceis em virtude de uma doença. “Tive problemas no joelho e precisei colocar prótese. Fiquei muito tempo sem andar. Sentia falta de alguém para conversar que não me desse conselhos ou julgasse meus atos, e acabei caindo em depressão.”





Recuperada e consciente da importância de alguém para desabafar, Cida decidiu participar do curso, com duração de quatro fins de semana. “Mas o aprendizado não se esgota aí. Sempre participamos de palestras e fazemos reuniões para avaliar o andamento do serviço.”

SEM PRECONCEITOS

Uma das atividades do treinamento de Cida incluiu ouvir o desabafo de casal de lésbicas que queria adotar uma criança. “Temos de nos despir de qualquer tipo de julgamento para realizar esse serviço. Lidamos com gente diferente, que tem problemas diversos, e precisamos estar abertas e aceitar o que vier.” No treinamento, aprende-se também que é proibido interferir no relato ou contar detalhes da própria vida, como muitas vezes as pessoas costumam fazer quando alguém vem conversar com elas sobre algum problema.

Patrícia lembra ainda que o serviço não é terapia, já que não é realizado exclusivamente por psicólogos, embora esses profissionais também possam participar como voluntários. “O que oferecemos é uma oportunidade da pessoa colocar para fora os seus sentimentos e entendê-los de forma que ela mesma possa encontrar a saída que procura.”

Para participar não é preciso ser morador de Santo André, tampouco frequentador da paróquia. “Aceitamos pessoas independentemente do credo. A religião, inclusive, sequer é abordada durante o atendimento.”

O máximo que as voluntárias fazem é indicar serviços disponíveis na igreja, ou com outros parceiros, tais como AA (Alcoólatras Anônimos), tratamento para usuários de drogas, encaminhamentos para a Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência) ou Casa da Esperança. E se o problema for muito grave, indicam que a pessoa busque ajuda de um especialista, seja psicólogo ou psiquiatra.

Para quem quiser saber mais informações sobre o Serviço de Escuta, basta ligar na Secretaria da paróquia, no telefone 4994-0998, de segunda a sábado, das 14h às 19h, exceto às quartas-feiras.

Fonte: Diário do Grande ABC





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